Raí Prado Morgado é estudante de Engenharia Florestal da ESALQ/USP e tem poemas publicados em diversas revistas literárias do Brasil e em uma da Argentina.
como voar com os pés no chão
I.
não te encontrar na rua de cima e então
duvidar do conceito de cidade
desacreditar da arte valorizar os muros
II.
nunca mais olhar para os dois lados
ao atravessar a rua de cima
e percebê-la como
a. o abismo do atraso
b. o centro de tudo
III.
é impossível pensar que tanta janela
transpasse pouco passado
e só quem se arrisca enxerga
IV.
(quando te encontrar na rua de cima
voltar a acreditar na vida
que o conceito de cidade carrega)
keep me where the light is
I.
a verdade é que entender por que um barco se vai
sem imaginar ao menos em qual porto atraca
é sempre uma causa perdida
II.
toda noite eu imagino a cidade explodindo
e se uma explosão ainda teria
a magia de espantar uma avenida
III.
a sabedoria de querer explícita
a relação do efeito das coisas
mais do que descobrir a verdade
IV.
ainda checo os bolsos
em busca das suas chaves
para bailar contigo entre las nubes
I.
também é caminhando que se enxerga
a cidade do chão são mais amenas
as esquinas os passos a indiferença
qualquer fala que são seja única
II.
pensar na imensidão do espaço
em que mesmo sem a presença do som
é impossível imaginar que não se possa ouvir música
III.
e apesar de tudo não parece que as coisas continuam as mesmas
(as coisas nunca
continuam as mesmas)
IV.
é sempre possível que as coisas continuem
Foto de Anna Carolina Rizzon.